Maestro #02

Capítulo 2

Lá Vem o Sol

Sendo teletransportados pela magia de Gooter, Bill e John avistam ao longe a criatura vil que estava a destruir tudo em sua volta de cima do maior prédio que se via no local. Olhando ao redor, John vê um povo em desespero correndo sem parar para o mais longe que podiam na direção contrária do monstro. Ele notou também que a população local não era composta só de humanos. Um gato quase da sua altura passou do seu lado correndo ereto, de terno, óculos no rosto e uma pequena maleta sendo segurada com suas duas patas dianteiras. Um grande carro estranho também chamava sua atenção. O mesmo era preto, com um design exterior um tanto luxuoso, e não andava sobre rodas, mas sim flutuava, no entanto, seu interior era o principal: não tinham assentos, volante ou qualquer outra coisa que sequer lembrasse um carro comum... com todos os vidros fechados, o interior do carro era cheio de água, como um aquário, e dentro dele, um golfinho era quem o estava aparentemente controlando, talvez com o auxílio da espécie de cristal azul que estava brilhando entre seus olhos (foi o que John imaginou).

Alguns outros felinos além de gatos também podiam ser vistos correndo com alguns detalhes que lembravam a cultura humana, como roupas ou acessórios, e também cachorros (e seus "parentes" caninos). Olhando rápido, o jovem não notou mais nenhuma espécie animal além dessas ali no meio, contudo, tinha mais algo não-humano. Seres muito parecidos com humanos, mas com uma pele que estava - literalmente - brilhando um pouco, e olhos suas pupilas muito maiores que as nossas também, de todas as cores que se podia imaginar. Além destes, outros humanoides, um pouco maiores, de peles azuis e grandes cabeças (principalmente vistas de cima, pois se alongavam bem mais que as nossas pra trás em formato oval), com olhos completamente negros também estavam ali. Esses já em bem menor número que os outros, mais ainda assim muito facilmente notáveis, pela sua altura média que devia ser de pelo menos 2 metros e meio. A cidade em si estava indescritivelmente linda (exceto pela fumaça, escombros e fogo das partes recentemente destruídas), bastante iluminada por todo canto - nem parecia que já passava das dez horas da noite -, enormes prédios, de tamanhos que seriam impensáveis da época que ele veio, e que nem sequer tocavam o chão (sim, assim como os carros, a maioria dos prédios flutuava à alguns poucos metros do chão). Percebendo que John estava um tanto distraído (sua cara de maravilhado era notável), Bill chamou sua atenção.

"Ei garoto, acorde!"
"O quê!? Me desculpe, acabei me deixando levar... Tudo aqui está tão diferente."
"O que você quer dizer com isso? De onde você vem afinal?"
"Do ano 2019."
"Ah, entendi... Você é do ano 2019... ESPERA AÍ, ANO 2019??!!!"
"Exatamente."
"O que diabos o Senhor Gooter estava pensando... Enfim, não dá pra perder tempo conversando besteira agora. Precisamos parar aquela criatura. Vamos correr, e no caminho traçamos um plano de batalha."

Começando imediatamente após isso a correr e sendo seguido lado a lado por John, Bill continua.

"O que você sabe fazer?"
"Não faço ideia."
"O que você quer dizer com isso?!"
"Eu acabei de aparentemente ganhar umas habilidades, mas não sinto nada de diferente..."
"O Senhor Gooter não te mandaria pra cá a toa... O que essas habilidades suas dizem?"
"Algo como a música ser a base do meu poder. Diferentes estilos musicais trarão efeitos diferentes pra mim."
"E você está escutando alguma música aqui?"
"Não..."
"Aí está a sua resposta. Por isso você não sentiu nada diferente. Se seu poder vem da música, é óbvio que sem música você não vai sentí-lo."

Nesse momento, um homem careca passando correndo há pouco mais de dois metros deles é atingido por algo grande que parecia uma hélice - talvez de um helicóptero derrubado pela besta -, sendo atravessado como se não fosse nada. O objeto caiu se cravando numa pequena rachadura no chão, ficando assim em pé, na diagonal, com o homem empalado pelo peito ali pendurado.

"Espere aqui."

Dizendo isso, Bill vai até o homem que acabara de morrer do seu lado, pega algo que estava na sua orelha, e desliza sua pata nos olhos dele para fechá-los.

"Obrigado, descanse em paz."

O gato volta até John e entrega na mão dele o que parece um pequeno brinco prateado.

"Coloque na orelha."
"Espera aí, não é melhor esterilizar antes? E por que eu preciso de um brinco?"
"Esterilizar o quê? Olhe direito, não tem nada pra te furar nele."
"Ah, é um brinco de pressão..."
"Não é um brinco! Você precisa de música pros seus poderes, isso é um fone de ouvido! Coloque ele agora onde normalmente colocaria um brinco e ele vai ser ativado."

John coloca o objeto no lóbulo da sua orelha, e imediatamente o mesmo se expande, virando uma espécie de camada prateada ultra fina que cobria todo o lóbulo e a hélice da orelha. Nesse momento, uma tela retangular verde semi-transparente aparece na sua frente, na direção do seu peito. John e Bill voltam a correr na direção do prédio que o monstro estava. No meio da tela, enquanto corre, o garoto vê aparecer um círculo preto com as letras MI minúsculas no centro e o desenho de uma maçã branca com o lado direito mordido em cima da letra 'i', como se fosse seu ponto. Abaixo desse símbolo dizia 'AppleMi Xperience | Music'. Depois de cinco segundos, o símbolo desaparece, e no lugar, seis retângulos surgem como opções, três na direita, três na esquerda.

[ MINHAS MÚSICAS ]       [ VER PLAYLISTS ]
[ TOCAR ALEATÓRIO ]     [ PROCURAR MÚSICAS ]
[ CONFIGURAÇÕES ]       [ SAIR DO APLICATIVO ]

"Acho melhor entender como esse negócio funciona logo, pra não me complicar numa hora ruim."

Ele então toca com seu dedo indicador da mão direita na opção de 'CONFIGURAÇÕES'. As seis opções desaparecem, e a tela agora mostra:

[ CONFIGURAÇÕES ]
VOLUME   7 / 10 (+) (-)
CONTROLES

EQUALIZADOR
TERMOS DE SERVIÇO

TEMA ESCURO   LIGADO   [ DESLIGADO ]

[ VOLTAR ]

"Hmmm...."

John toca em 'CONTROLES'.

[ CONFIGURAÇÕES // CONTROLES ]
Pressionar o aparelho três segundos: Ligar / Desligar. *Depois de já fixado na orelha*
Pressionar o aparelho um segundo: Abrir menu.
Um toque rápido no aparelho: Passar pra próxima música.
Dois toques rápidos no aparelho: Voltar pra música anterior.
Comando de voz: [ Ligado ]   Desligado
[ VOLTAR ]

"Entendi. Até que é bem fácil."

O jovem então selecionou a opção de voltar. Depois, nas configurações, novamente tocou em 'VOLTAR'.

"Na verdade, o comando de voz estava ligado, então... Abrir 'Minhas Músicas'."

Uma nova tela se abre com o menu desaparecendo novamente, e essa mostra inicialmente sete músicas e uma barra de rolagem do lado. Deslizando o dedo na tela de baixo pra cima, John confere a lista inteira do celular, que possuía um total de 199 músicas.

"Nossa, eu não conheço nada disso... Selecionar todas as músicas."

Ao lado de todas as músicas disponíveis, apareceu então o símbolo '✓'.

"Deletar."

A tela fica só com um ponto vermelho piscando no meio por cinco segundos. Depois disso, o ponto fica verde, e com o símbolo '✓' branco no meio. Uma mensagem aparece então no meio do fundo verde vazio dizendo 'Nenhuma música encontrada'.

"Voltar ao menu principal."

O aparelho responde.

"Ativar o 'Tema Escuro'. Esse verde brilhando na minha frente é um pouco incômodo... Agora, procurar músicas."

O jogo de cores da tela retangular muda pra preto, mantendo as cor das letras brancas. Após isso, surge a mensagem 'Digite ou fale o que deseja pesquisar em nossa biblioteca online de músicas.'.

"Escuto basicamente qualquer coisa e não estou com muito tempo pra pensar, então... Monte pra mim uma playlist com mil músicas de estilos variados que fizeram sucesso até o ano de 2019."

O fone reconhece o pedido e prontamente mostra na tela o aviso 'Entendido. Carregando playlist...'. Depois de cerca de trinta segundos, uma nova mensagem: 'Playlist criada com sucesso! Deseja renomeá-la? [ SIM ] [ NÃO ]'

"Sim. Deixe como 'Ornitorrinco'. Sempre achei engraçado como eles parecem uma mistura de um monte de coisa, assim como essa playlist. Agora, toque a playlist no modo aleatório. Nem quero ver que músicas estão aí antes, me surpreenda."

Como se fosse uma mensagem do destino para John McCartney, a primeira música que começa a tocar da sua mais nova playlist é nada mais, nada menos que 'Here Comes the Sun', dos Beatles.

"Sentiu algo diferente, garoto?"

"Sim, me sinto mais forte de alguma forma, mas não sei como direito."

"Vamos descobrir logo mais. Já estamos há cerca de cem metros do prédio, temos que pensar no que fazer. Imagino que no mínimo seus socos estejam mais fortes, é algo básico de se esperar. Agora mais de perto dá pra ver algumas outras criaturas guardando o prédio, fazendo uma espécie de barricada pra ninguém passar e impedir o principal lá em cima de continuar a destruição. Eu vou tentar subir e pegar aquele maldito, e enquanto isso você usa sua supostamente aprimorada força pra parar esses que estão na barricada, só o suficiente pra eu passar pelo menos."

"Tudo bem..."

No meio da música, John escuta uma voz em sua cabeça.

'Parabéns! Você adquiriu a habilidade 'O Sol Chegou'.'

"Mas o que...? Abrir tela de status. Me mostre minhas habilidades."

Ao lado do botão de 'Nível' que ficava abaixo da habilidade 'Maestro', agora uma opção escrita 'Habilidades Relacionadas' era mostrada. Ele abriu a tela dessa opção, e lá viu:

[ MAESTRO // HABILIDADES RELACIONADAS ]

♦ O Sol Chegou | Nível: 1 | Uma forte luz pode ser emitida pelas mãos do usuário.

"Hmmm.... Interessante."

John e Bill chegam finalmente na frente do prédio. À sua frente, aproximadamente trinta monstros de cerca de 185 centímetros, com uma forma bizarra de coelhos brancos humanoides, todos com os braços esquerdos e pernas direitas robóticos (sendo essas partes robóticas predominantemente de cor preta, com apenas alguns detalhes vermelhos), além de seus olhos esquerdos serem engrenagens. Em cima do prédio, com no mínimo três metros de altura, uma criatura cinza de olhos completamente pretos, gargalhando com uma voz grave deixando seus afiados e numerosos dentes à mostra na sua enorme boca, sem nariz, e desproporcionalmente musculosa (um braço maior que o outro, uma perna mais forte que a outra - ainda que as duas extremamente malhadas -, e muito mais músculos visíveis do que se sabe que um humano possua no corpo). No seu peito, assim como também se podia ver no peito dos coelhos abaixo, um símbolo que era como um grande arranhão vermelho feito por um gato, com um círculo em volta de mesma cor.

"Acho que sei como te fazer passar. Bill, fecha os olhos."

"O quê?"

"Faz isso logo."

O gato o fez, e então John mentalizou sua nova habilidade, se concentrou e fez uma fortíssima luz sair das palmas de suas mãos, assim deixando todos os estranhos coelhos cegos e assustados por alguns segundos, permitindo que Bill rapidamente passasse entre eles e subisse - incrivelmente - o prédio correndo por sua parede, como se fosse o chão. Ele já estava na metade do prédio quando os coelhos voltaram a enxergar, e não o vendo atrás, eles partiram pra cima de John, agora sozinho. A música que estava tocando termina, começando agora 'Dope', do grupo BTS. Uma energia percorre o corpo do garoto, e com movimentos que mais pareciam passos de dança muito rápidos, ele consegue desviar de todos os ataques que vieram em sua direção. Em meio a isso, ele começa a mesclar suas esquivas com ataques, chutando e socando seus adversários com toda sua força em meio aos passos, derrubando um após o outro. Quando a música termina, intocado, John derrubou todos os seus inimigos.

Olhando pra cima, ele vê Bill já muito ensanguentado - ao contrário do monstro que não tinha nenhum arranhão -, erguendo suas duas patas pro céu e fazendo uma espada do seu próprio tamanho se materializar para o que parecia ser uma tentativa de ataque final, uma última esperança numa luta perdida. A criatura desvia do ataque virando seu corpo pra direita, fazendo Bill passar reto, e dá um brutal soco nas costas do gato, derrubando-o. Inesperadamente, aquele era o falso Bill, que desaparece e dá lugar ao verdadeiro nas costas do monstro, cravando sua espada no meio da coluna do mesmo. A fera logo cospe sangue, mas ao invés de cair, demonstra um olhar extremamente irritado pra trás, pegando o animal pelo pescoço e jogando com toda força de cima do prédio. Em menos de um segundo a queda acontece devido a tal força. O lugar que Bill cai, há pouco mais de três metros de John, forma uma cratera de cinco metros de diâmetro, com o gato no meio. O garoto corre até seu parceiro.

"Bill!"

O animal com os olhos metade abertos, olha para John e sua espada desaparece.

"Ei garoto, não se preocupe... Vá embora, se salve. Você parece ser forte mesmo, deu um jeito em todas aquelas criaturas na sua primeira briga... Talvez um dia, com treino, ganhe do grandão ali e me vingue."

John muda sua expressão pasma que estava direcionada a Bill, pra uma completamente irritada olhando para o monstro em cima do prédio. Só nesse momento ele se dá conta de qual era a música que estava tocando agora, já que estava distraído com o que estava acontecendo ali, não prestando tanta atenção na mesma. No canto superior direito da sua visão, ele enxergou 'MC Crash - Passinho do Romano'. Logo, uma voz na sua cabeça veio dizendo:

'Parabéns! Você aprendeu a habilidade 'Sarrada Aérea.'.'

Sem sequer abrir novamente a página de habilidades relacionadas da 'Maestro', ele inconscientemente sabia o que fazer ao sentir uma energia imensa tomar conta de suas pernas e pés. Colocando as mãos também no chão para se apoiar, ele salta com seus braços e pernas pra trás. Seu pulo feito direto do chão alcança a criatura maléfica em um instante. A criatura esboçou uma reação, mas John rapidamente - ainda no ar - coloca sua mão esquerda na direção do rosto da fera e usa 'O Sol Chegou' para causar cegueira, usando logo depois a mão direita ao transferir toda a energia que estava na parte inferior do seu corpo pra mesma, em sincronia com o pico do grave da música no refrão, ele acerta em cheio um soco no rosto do monstro, arrancando sua cabeça. Ele pousa de pé no topo do prédio, com o corpo da besta caindo do seu lado (e a cabeça há mais de sete metros de distância). Vendo aquilo lá de baixo, Bill se sente impressionado e aterrorizado ao mesmo tempo.

"Miau deus..."